domingo, 22 de janeiro de 2012

ESTRELA NEGRA - Capítulo II

AULAS E UM CAVALHEIRO MISTERIOSO

                Acordei meio desorientada, levei alguns segundos para lembrar tudo e desejei ainda estar dormindo. Olhei em volta, a cama da Miss simpatia estava arrumada. Mas há uma explicação para isso: no Estrela Negra os alunos não são tratados como se estivessem em um hotel cindo estrelas, cada um é responsável pela organização das suas próprias coisas. Por isso, mesmo os riquinhos e esnobes tem de arrumar suas próprias camas. O que para mim não é nenhuma novidade.
                Tessa não estava no quarto e lá fora havia bastante luminosidade. O que era estranho, por que o meu relógio não havia tocado... Meu relógio?!... Quando eu o havia posto para despertar?... Não havia!
                __Aaah! Já são 07h35min!
                Eu quase cai da cama quando me dei conta do horário. O café acabava em 5 min e eu não havia nem me trocado!

                Eu corria feito uma louca pelos corredores em direção ao refeitório, ainda tentando arrumar o maldito laço do uniforme, que era composto por uma saia xadrez de preto e azul, com três grandes pregas do lado esquerdo, uma camisa branca cujos punhos tinham o mesmo xadrez da saia e ao redor do pescoço deveria haver um grande laço daquele mesmo azul, já que o uniforme dos meninos – calça com o mesmo xadrez do feminino e camisa branca sem os punhos coloridos – possuía uma gravata azul.
                Eu alcancei o refeitório exatamente às 7h42min, meu recorde na corrida. Meio despenteada, as meias... Ah, ainda tinha as meias 4/8 – sim aquelas que vão até as coxas – brancas ou pretas, mas a cor ficava à escolha da estudante – no meu caso eram pretas. Naquela correria eu havia esquecido de arrumá-las, uma estava na altura do joelho e a outra próximo a canela. Quanto ao laço, bem eu já estava desistindo.

                __Desculpe, mas o café já acabou. – a senhora, de avental e toca na de rede no cabelo, me informou assim que entrei e meu estômago roncou ao ouvi-la.
                Ótimo, agora eu ficaria faminta até a hora do almoço...
                __Tudo bem, Rose. Esta é novata.
                Essa voz... Eu já tinha ouvido antes...
                Virei-me para encarar a pessoa que intercedia por mim.
                __Você está um verdadeiro desastre, ga-ro-ti-nha!
                Mesmo se eu não fosse capaz de reconhecer aquela voz, aquele sorriso irritante e aquele “garotinha”...

                __Heh! Você é o cavalheiro arrogante! – eu falava e apontava ao mesmo tempo.
                __É falta de educação apontar, sabia.
                Antes que eu abaixasse meu braço, ele estava tão perto de mim que eu quase podia sentir sua respiração. Suas mãos deslizavam sobre a fita azul.
                __Pronto, agora sim parece um laço. Garotinha desajeitada.
                “Desajeitada”?! “Garotinha”?!
                Dei um passo para trás.
                __Não pense que vou lhe agradecer! – exclamei realmente zangada.
                __Eu sei. Posso esquecer que vai me “agradecer outra vez na vida”.
                Ele... Decorou...
                O cretino abriu outro daqueles sorrisos sem vergonha. Desviei o olhar para o perfeito laço azul ao redor da gola da minha camisa. Talvez eu fosse um pouco desajeitada, mas ele não precisava esfregar isso no meu nariz.

                Sentei-me junto a uma das grandes mesas do refeitório. Meu estômago realmente estava vazio. Ele surgiu de dentro da cozinha com uma tigela de cereal de chocolate com leite e um prato com mamão cortado em fatias finas. Colocou ambos diante de mim.
                __Você não pretende ficar me assistindo comer, não é? – perguntei quando ele sentou de frente para mim.
                Ele lançou-me outro sorrisinho. Sim, ele pretendia. Cretino...
                __Você não jantou ontem, estou certo?
                Eu quase engasguei com o cereal.
                __O que estava fazendo?
                __Não é da sua conta.
                __Caso você tenha esquecido... – ele mostrava a braçadeira com o brasão do colégio.
                __Tomando banho. Algo contra?
                __Não vou limpar a sua barra novamente garotinha. Se continuar sendo irresponsável com os horários vou lhe dar advertências sem piedade. E você lembra o que lhe disse que aconteceria caso recebesse três advertências, não lembra?
                __Também lembro o que respondi!
                Mais uma vez vi aquele sorriso brincar em seus lábios.

                __Aliás, tem quatro minutos para ir para a sala de aula. Suponho você saiba qual é...
                Lancei lhe o meu melhor olhar “você acha que sou idiota?” Seu sorriso alargou-se um pouco mais enquanto ele levantava-se.
                __E, garotinha, compre um despertador se não quiser perder o café da manhã outra vez.
                __Eu já tenho um, cretino!
                Ele virou o rosto para mim e lançou-me um olhar maldoso. Aquilo só me deixou mais irritada. Desde que eu o conhecera ele já me chamara de mal educada, mal agradecida, esquentadinha, desastrada, desajeitada e irresponsável! Esse garoto tem o estranho poder de me deixar furiosa. Deve ser parte das atividades dos monitores atormentar os novatos. E o cavalheiro cretino deve ser o melhor nesta área!
                Quando me lembrei de que as aulas estavam prestes a começar, sai correndo do refeitório. Cheguei à sala 1-b, faltando um minuto para o sinal soar. Respirei fundo tentando recompor-me. Minha primeira aula era de literatura. Felizmente a professora não era tão assustadora quanto os alunos, a maioria novatos, alguns, dois ou três, pelo que percebi, repetentes. Afinal, ser rico e estudar em escola cara não significa tornar-se inteligente, para isso é preciso esforço e dedicação, o que a meu ver, faltava em muitos ali.

                O lugar designado para mim era próximo a uma janela, quase no fim da sala. As aulas sucederam-se uma após a outra sem grandes transtornos, exceto por muitas garotas me olharem com desprezo e outras apenas me ignorarem. Devo admitir, não sou nenhuma beleza rara. Não sou uma grande peituda – mesmo que siliconada – como Tessa – mas também não sou nenhuma tábua, meus cabelos castanhos, um palmo acima da cintura no comprimento, com muitas pontas duplas, não reluzem como os das outras garotas, ou pelo menos o da maioria delas. Meus olhos, bem, desses eu sinto um certo orgulho, tem um raro tom acinzentado, algo entre a prata e o grafite, mais puxado para o último. Minha mãe é que tem olhos assim, embora os dela sejam mais prata do que os meus. Devo isso ao meu pai, olhos negros como a noite. Não possuo muitas curvas como algumas colegas minhas, mas isso é por que sou uma magrela que pesa menos do que deveria, segundo minha avó. Enfim, não me destaco muito, também não ofereço muita ameaça quando se trata de garotos. Eles sempre me tratam como uma amiga ou mantém distância... Minha primeira paixão foi por meu melhor amigo, ele era gentil e agradável, mas me dispensou assim que arrumou uma namorada, pelo menos eu não havia me confessado para ele, a humilhação teria sido bem maior...

                Assim que o intervalo começou corri para a biblioteca. Queria encontrar alguns dos livros sugeridos pelos professores, se eu não era rica e graciosa, ao menos nos estudos precisava me destacar. Como era de se esperar da biblioteca de um dos melhores colégios do país, haviam mais títulos do que uma pessoa seria capaz de ler se vivesse três vezes e em todas elas alcançasse os 90 anos, talvez mais.
                Corri meus olhos pela sessão de história, depois filosofia e finalmente parei na de ciências. Tantos livros grandes e pesados... O livro que eu queria ficava na prateleira mais alta. Fui até a extremidade da estande, meu plano era puxar a escada até o lugar onde o livro se encontrava. Ao menos era o que eu pretendia, só que a escada trancou antes de chegar ao destino final. Mas estava perto o suficiente para que com um pouco de esforço eu alcançasse a prateleira. Subi até quase o penúltimo degrau, com a mão esquerda me segurava e com a direita tentava alcançar o livro. Estiquei-me mais um pouco, meus dedos estavam quase alcançando.
                __Só... Mais... Um... Pouco... Ah, alcancei!

                Antes que eu o agarrasse a escada andou, meu corpo se desequilibrou e despenquei. Houve um baque forte. Meu corpo estremeceu, mas eu não havia batido no chão, alguma coisa... Não, alguém amortecera a queda.
                __Garotinha, você pesa mais do que aparenta. Sua desastrada.
                Arregalei os olhos, estava caída sobre o peito do...
                __Cavalheiro arrogante! – exclamei mais alto do que gostaria.
                Mais rápido do que conseguia pensar, afastei-me sentando sobre as duas pernas.
                __Você continua me chamando desse jeito estranho... – ele resmungou sentando-se também – Você está bem? – ele escorou-se na estande me encarando.
                Acenei que sim com a cabeça. De repente um estralo a cima de nós, o livro que eu tentara pegar, realmente grande e pesado, caiu sobre a cabeça dele com um estrondo. Num piscar de olhos meu salvador estava desmaiado, nocauteado por Darwin.
                Avisei à bibliotecária – que apareceu por causa do barulhão, que pediu ajuda a um professor e levaram-no para a enfermaria. Cerca de quinze minutos depois ele acordava, enquanto eu segurava uma bolsa de gelo sobre o local do machucado.

                __Hoh, quando foi que a senhora Morgan tornou-se tão jovem?! – ele me encara com
um olhar debochado, embora eu pudesse ver uma leve expressão de dor por trás de seus olhos esmeralda.
                __Ela estava ocupada, e como foi minha culpa você se machucar fiquei aqui. Mas se já consegue fazer piadinhas, também pode cuidar de si mesmo! – resmungo soltando a bolsa de gelo sobre a cabeça dele.
                __Heh, talvez você não seja uma mal agradecida afinal. – ele segura a bolsa sobre a área um tanto esverdeada da batida – Mas continua sendo mal educada.
                Virei-lhe as costas sabendo que aquele sorriso irritante estava por vir.
                __Espero que da próxima vez a batida concerte os parafusos soltos da sua cabeça. – retruquei saindo e deixando-o sozinho.
                Esse garoto... Como consegue ser tão arrogante, tão irritante?!
                Enquanto eu me apresava em voltar para a sala, não tive como não perceber os olhares que me eram lançados. Curiosos, indiferentes e alguns que, estranhamente, ficavam sobre o muro.  Fiz que não eram comigo, mas estava ficando incomodada com aquela situação. Cheguei à sala junto com o professor. Ele me lançou um olhar reprovador, aprecei-me em sentar.

                __Sou o senhor Ruskin. Não gosto de brincadeiras e não admito conversas paralelas durante as minhas aulas. Para os novatos minha matéria é matemática, cálculo ou álgebra. Para os repetentes, estudem três vezes mais ou vou reprova-los novamente.
                O professor Ruskin era de baixa estatura, não era corpulento, cabelos ficando grisalhos, um pouco ralos, olhar desafiador, do tipo que parece ter olhos na nuca, pois sempre sabe o que está acontecendo na sala. Pelo tom de voz é dos inflexíveis, daqueles que reprovam um aluno por apenas um décimo. Mas há algo que gosto neste tipo de professor, eles não costumam ter favoritos dentro da sala de aula. Por que de favoritismo eu já estava cheia.
                A última aula da manhã, com o Sr. Ruskin, foi dentro do esperado: chata, maçante e silenciosa. O sinal para o almoço soou. Acabei me enrolando enquanto arrumava meus materiais, logo era a única dentro da sala, mesmo o professor já tinha saído. Superlotada de coisas, dirigi-me a porta, foi quando meu olhar bateu de frente com aquele sorrisinho...
                __Você deve gostar mesmo de estudar, garotinha. Ou será que devo te chamar de “papa livros”?
                Pelo menos não foi traça...

                __Ah, é você, Cavalheiro Cretino. Será que devo te acertar com outro livro? – falei olhando a área esverdeada da batida.
                E mais uma vez aquele olhar maldoso surgira em seu rosto perfeito. Sim, eu não sou cega, afinal, não tinha como não ver, e reconhecer, que ele era uma visão. O problema é que eu o estava vendo realmente, e literalmente, de mais.
                __Está me seguindo agora? – resmunguei irritada.
                __Vai perder o almoço, garotinha.
                __Quando vai parar de me chamar desse jeito irritante? – ignorei o aviso.
                __Do que está reclamando?!
                Ele se inclina na minha direção. Seu rosto não deveria estar a mais do que uns dez centímetros do meu. Seus grandes olhos esmeralda cravados nos meus. Senti que estava começando a corar. Eu nunca ficara tão próxima, ou fora tão intensamente encarrada por um garoto.
                __Você também não me chama pelo meu nome, ga-ro-ti-nha. – ele soletrara com um certo prazer na voz e então endireitou seu corpo novamente.
                Virei o rosto um pouco para o lado tentando fugir daquele par de esmeraldas. Em vão. Seu olhar parecia grudado em mim.

                __Vou continuar te chamando desse jeito até você me chamar pelo nome... – inclinou-se novamente ficando a um palmo do meu rosto – Garotinha.
                __Pode esquecer! – retruquei corando ainda mais.
                Esse cretino... Muito perto...
                __Como quiser. Só não perca o almoço. A sexta aula começa às 13h e 45min, não se atrase. – sorri outra vez – Até, garotinha.
                Tão rápido quanto ele aparecera, como um tornado que vem e bagunça tudo, ele se foi deixando-me aborrecida e frustrada comigo mesma.
                Por que raios eu corei daquele jeito? Ele com certeza percebeu minhas bochechas ficando vermelhas. Aquele cretino deve estar rindo agora. Eu pensava furiosa enquanto lavava as mãos no banheiro. Olhei-me no espelho, eu não sou do tipo que se deixa intimidar com facilidade, mas aquele arrogante consegue me pressionar e isso estava me deixando louca. O jeito como ele se projetara ficando a cerca de um palmo do meu rosto. Eu ainda podia sentir o seu perfume como se estivesse preso, impregnado em minhas roupas... Mas é claro, eu havia caído da escada sobre ele, foi assim que fiquei com o cheiro dele.
                __Ótimo! – resmunguei jogando água no rosto.

                Saí do banheiro e dirigi-me para o refeitório. Cheio, mesmo após 20min do sinal. Próximo ao refeitório havia algumas mesas de pedra com bancos de madeira estofados, como cadeiras. Coisa de riquinhos... Qual o problema em sentar em um banco normal? Por que precisava ser estofado?
         Respirei fundo e peguei meu almoço no bufê. Devo admitir, a comida no geral é muito boa. Há uma grande variedade de pratos, alguns que eu nunca nem experimentara. Mas eu não estava com muita fome, meu café da manhã fora... Generoso. Aquele arrogante! Tudo bem, fora graças a ele que eu não ficara com fome a manhã inteira. Mas eu não admitiria isso para ele nem sob tortura!
         Enquanto atravesso o refeitório em direção às mesas de pedra, tendo um vislumbre... O cavalheiro arrogante estava escorado junto a uma das grandes janelas do refeitório, seria algo normal, pois tratava-se do monitor do colégio, não fosse pelo incrível número de estudantes na sua volta. Não apenas garotas, sorridentes, atiradas, metidas e bonitas, mas também garotos, muitos garotos. E a julgar pela disposição das mesas e postura, aquele era o grupo dos mais-mais do Estrela Negra. Todos rindo. Exceto... Ele. Talvez fosse parte da sua postura como monitor só rir debochadamente dos novatos – como eu.

         Afastei-me rapidamente, odiava aquele ambiente. Tudo ali parecia apontar para mim e dizer: “Você não pertence a este mundo...”
         __Ei, você, mexa-se! Está atrapalhando.
         Ora, que surpresa. Tessa, a miss simpatia, cercada por outras três garotas, uma loira autêntica, uma negra com cabelos lisos como os meus, resultado de horas de salão de beleza, e uma morena de olhos castanhos como os cílios mais longos que eu já vi. Tessa vinha na frente.
         Por um minuto pensei no que deveria responder-lhe. Era óbvio que ela poderia simplesmente desviar e continuar andando. Mas é claro que a Miss não mudaria a sua trajetória, os outros é que deveriam mover-se. Abri a boca para responder-lhe a altura.
         __Algum problema, senhorita Hollins?
         Virei-me bruscamente e teria derrubado a bandeja com meu almoço, se o cavalheiro não a tivesse tirado das minhas mãos.
         __Não, problema algum, Adrian. – eu juro que tive dificuldades para acreditar que aquela era a mesma Miss simpatia que estava falando comigo segundos antes. Comparando-as eram a “gêmea má e a gêmea boa”.
         __É monitor, e não “Adrian”.

         Certo, aquele parado ao meu lado esquerdo não se parecia com o cavalheiro arrogante, e que eu já acreditava ser um sádico por estar sempre me irritando e visivelmente se divertindo com isso. Bem, aquele olhar maldoso ainda estava lá, mas não o sorriso.
         __É claro, mo-ni-tor. – ela enrolava o dedo na gravata dele enquanto falava, os olhos fixos nele – Vamos, garotas. – ela lançou-me um olhar venenoso – Tchauzinho, monitor.
         Eu não acredito nessa garota... E o que foi a cena patética que acabara de acontecer...
         __Duas caras! – resmunguei ainda tendo-a em meu campo de visão.
         __Eu não posso tirar os meus olhos de você por dois segundos que você já está metida em alguma confusão... Ei, estou falando com você! – ele balançava a mão diante do meu rosto enquanto falava.
         __Estou ouvindo! Então você admite que está me perseguindo! – retruquei agarrando aminha bandeja de volta.
         __Observar os estudantes é minha função. E não posso fazer nada se você é um ímã para problemas. – aquele maldito sorriso estava lá outra vez – Não se atrase para a última aula.

         __Ei! – chamei-o enquanto ele se afastava.
         __O que foi? Vai me agradecer?
         __Nem em sonho! – retruquei já me arrependendo por tê-lo chamado.
         __Então o que é?
         __A sala de música, eu não sei onde fica...
         Aquele sorriso se alargara um pouco mais.
         __Ah é, você toca violino.
         Não tive como evitar o espanto.
         __Como... Você...
         Ele sorriu ainda mais, estava realmente se divertindo as minhas custas. Percebi pela expressão dele que não obteria uma resposta.
         __No prédio dos clubes, depois da quadra poliesportiva, segundo andar no final do corredor, é a última sala.
         Eu estava prestes a agradecê-lo e ele deve ter percebido, pois aquele olhar maldoso brincava em seu rosto novamente.

         __Eu não vou te agradecer, e não pense que vou deixar passar o fato de-
         __Eu saber coisas sobre você?!
         Cretino...
         __Não acredito, está ficando interessada em mim, garotinha?! – eu tive vontade de jogar aquele livro pesado de ciências nele.
         __Nem nos seus melhores sonhos, cretino!
         Ele se afastou sorrindo. Aquele maldito sorrisinho!
         Comi meu almoço sozinha junto a uma das mesas de pedra, com bancos de madeira estofados. Que por sinal eram bastante... Confortáveis...

         Antes da sexta aula corri ao meu quarto para ter certeza de que Tessa não fizera nada com as minhas coisas. Ela parece ser do tipo que adora uma vingança. Mas nada estava fora de lugar e nem sinal dela. Talvez a Miss ameba, que a essa altura eu já sabia tinha 16 anos e estava na mesma turma, 2-A, que o cavalheiro, arrogante, sádico e cheio de segredos, Adrian. E sim, eu não esquecera o nome dele desta vez... Talvez por que Tessa estivesse ocupada demais pensando em quem ela iria namorar durante o próximo mês. E pela ceninha no refeitório a vítima já havia sido escolhida.
         Fui para a 6ª aula, geografia com o professor Wilde, cabelos – os poucos sobreviventes, grisalhos, baixo, gordo, com uma barba digna de Papai Noel, e era tudo, menos um bom velhinho. Falava muito baixo, com um sotaque estranho e um rompante de ‘eu sou o maior’, ou seja, um egocêntrico total. Mas sua aula era tão silenciosa quanto a do senhor Ruskin, em compensação em não entendia quase nada do que ele explicava, uma vez que o meu lugar era próximo ao fundo da sala. Não importava, nada tiraria o meu ânimo, pois em alguns minutos eu poderia tocar meu amado violino.

         Eu contava os segundos para a liberdade, que veio com uma pilha de lições para serem feitas até a próxima aula, que seria em dois dias. O que seria normal, não fosse esta a primeira aula do ano...
         O sinal finalmente soou, para minha alegria. A o contrário das outras vezes, fui uma das primeiras a sair da sala. Corri para a sala de música, que realmente ficava onde o cavalheiro dissera... Fazia quase três dias que eu não tocava o meu amado violino, uma vez que ele chegara ao Estrela Negra primeiro que eu, viera - contra a minha vontade, junto com a maior parte da minha bagagem. Eu estava ansiosa para segurá-lo em minhas mãos e, principalmente, ter certeza de que estava intacto, sem nenhum arranhão no verniz, sem cordas arrebentadas ou desafinado.

         Entrei na grande sala de música. Haviam vários instrumentos diferentes, alguns de sopro como flautas, alguns trompetes, uma tuba e um sax. No canto direito da sala próximo à porta, um grande piano de cauda, ao lado estavam os instrumentos de corda, uma harpa, dois violoncelos e os violinos. Aproximei-me, lá estava a razão de eu tolerar esse odioso colégio, meu violino. Peguei-o e suavemente toquei algumas notas. Sempre que retiro as notas das melodias que já memorizei, fecho meus olhos e sinto meu corpo leve, como se estivesse flutuando entre as nuvens.
         Quando voltei a abrir meus olhos, sentia-me revigorada, como se nada neste colégio ou no mundo pudesse me colocar para baixo, por que eu este instrumento é e sempre foi meu escudo.

         Por algum motivo, tinha a sensação de que alguém estivera me observando enquanto tocava. Olhei em volta, mas estava completamente sozinha. Ainda me questionava, quando vários estudantes começaram a entrar na sala, mas nenhum pertencia a minha turma. Um alívio e ao mesmo tempo outra irritação, pois logo os olhares começaram. No entanto, não eram exatamente olhares desaprovadores, esses, é claro, ainda estavam estampados nos rostos de alguns, porém a grande maioria parecia mais curiosa do que indiferente. O que não era necessariamente bom, mas também não orbita do lado mal. Era tolerável. E mesmo se aquela aura estável se tornasse turbulenta, eu tinha em mãos o meu escudo protetor.

Ͽ♥Ͼ

quarta-feira, 18 de maio de 2011

PRESSÁGIO - Prólogo

AS CHAVES


            Eu nasci com um dom, e o fato de jamais ter contado a alguém, tornou esse dom um fardo difícil de ser carregado. Apesar disso, sempre senti que minha mãe sabe que não sou como os outros.
            __Querido, não demore muito ou vai perder o ônibus.
            Minha mãe é uma mulher maravilhosa, doce, alegre e sempre me trata com carinho. Já meu pai, bem ele é como um relógio, não se atrasa, nunca esquece onde larga seus objetos e não perde a chance de mostrar o quanto sou incapaz, diferente do filho com o qual ele sempre sonhou. Mas eu o amo muito.
            __Eu já vou Alice, não posso me atrasar para o trabalho, tenho uma reunião muito importante, e hoje é a escolha do novo representante da empresa, por isso não me espere para o jantar.
            Todo dia ele sai cedo para o trabalho, hoje não seria diferente. Pega o carro na garagem, vai sempre pelas mesmas ruas para evitar p engarrafamento. Como se isso fosse possível, saindo sempre tão cedo. Passa no lava-a-jato, deixa o carro limpo e só então vai para o escritório.
            Esse vai ser um longo dia, pois tem reunião logo cedo. Todos entram na sala de reuniões, sentam-se nos assentos macios de couro. O chefe esta zangado com a demora na resolução na compra de uma fábrica.
            Ele esta nervoso. A reunião termina depois de uma hora de reclamações e sugestões estúpidas. Volta para a sua sala. Em cima da mesa vê a foto do filho ao qual sempre dedica pouco tempo. Nem se quer sabe o nome dos seus amigos, ou o que gosta de faze. Não conseguiu acompanhar seus primeiros passos e não estava presente quando pronunciou seu nome pela primeira vez.
            Sentado em frente a foto, promete a si mesmo dedicar mais tempo ao filho adolescente. As horas passam. O resultado da eleição chega, ele era o novo representante da empresa.
            O expediente termina, é hora de voltar para casa. Feliz, para o carro enquanto o sinal é vermelho. Sem perceber que um homem se aproxima da janela do carro.
            __Ei coroa! Passa a grana rápido.
            Nervoso deixa as chaves do carro cair, o carro apaga. Quando se abaixa instintivamente para pegá-las, o ladrão pensa que ele vá pegar uma arma. Um disparo e seu corpo cai inerte sobre o volante do carro. O ladrão foge.
            __Filho, acorde é hora de ir para a escola!
            __Já estou acordado mãe!
            __Querido, não demore muito ou vai perder o ônibus.
            __Alice, não consigo achar minhas chaves.
            __As chaves estão onde você deixou querido.
            __Eu as deixei no criado mudo e não estão lá.
            __Eu vou procurar.
            __Esqueça Alice, não posso me atrasar para o trabalho, tenho uma reunião muito importante, e hoje é a escolha do novo representante da empresa, por isso não me espere para o jantar.
            __Eu vou chamar um táxi para você.
            Minha mãe me observa. Com a mão no bolso, aperto com mais força as chaves.                                                                                                                                                                 

Quem é vivo sempre aparece - parte II

Hi pessoal!!!
Cá estou eu para lhes trazer uma parte do que havia prometido na minha última postagem.
Reforçando o que eu havia dito anteriormente, eu estive ausente mas estava produzindo. Prova disso é que hoje eu começo a postar uma nova história - na verdade não é um projeto recente, apenas é novo como postagem. Uma das que eu já havia mencionado - procure pelo marcador NOVO que você encontrará mais detalhes.
Bem, o projeto é uma coletânea de contos e crônicas, geralmente narrados em 1ª pessoa, sobre fatos e momentos do cotidiano - nem tão normal...
Espero que gostem!!!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Quem é vivo sempre aparece - não me joguem pedras por favor!!!

Olá pessoal!!!
Como diz o título do post: quem é vivo sempre aparece! Tá, eu sei que fazem sei lá dois meses desde a minha última postagem... - escritora relapsa você deve estar pensando - mas tenho meus motivos e são bem justos!!!
Estava muuuito ocupada - e estressada - com o meu trabalho, e ainda tem a faculdade. "Estava" no passado por que agora tenho um pouco mais de tempo livre. Por que? Por que sai do meu antigo emprego! Isso, sou uma desempregada, mas uma desempregada feliz!
E como um pedido de desculpas logo postarei atualizações no Estrela Negra e postarei duas, talvez três, novas histórias. Sim eu estive ausente mas estava produzindo!!!
Então até breve!!!!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Olá, sei que pode parecer que estou sumida, mas não é verdade!!! O que acontece é que na maioria das vezes eu apenas edito algumas postagens, então a data original da postagem não fica alterada. Algo que fiz com o Estrela Negra, que pra quem está acompanhando deve ter percebido que a história, que era um projeto sem nome, tem um título e o 1º cap. inteiro foi postado com direito a uma imagem!
O próximo cap. será postado em breve, só não digo data certa para não desapontá-los caso não consiga cumprir.
Ah, tem alguns meses que entrei para um site chamado Anime Spirit, eu não havia comentado por que... acho que tinha esquecido¬¬ Ignorem meus lapsos de memória!!!
Enfim, o Estrela Negra e Recordações estão postados lá também!! E ao contrário daqui, lá eu tenho recebido comentários e não apenas uma avaliação de gostei, bom, etc.
É que comentários sempre incentivam um escritor!!!!
De qualquer forma, não foi apenas para isso que passei, caso você esteja pensando em por que o marcador está NOVO. É porque tenho dois novos projetos, ambos em desenvolvimento. Um é o xodó da Noan, um loirinho de olhos azuis e nome de anjo, que ela nem precisa ler a descrição para saber de quem estou falando. Pois bem, trata-se de narrativas que ficam entre o conto e a crônica, algumas são mais breves que outras, mas todas envolvem os mesmos personagens, e NÃO SÃO, repito, não são lineares, embora lendo é possível ligá-las adequadamente. São um pouco mais sombrias do que o normal, mas fazer o quê?!
O outro projeto envolve a visão da nossa sociedade e do mundo a partir dos olhos de alguém que já presenciou muito mais do que se pode imaginar.
Resumindo: Aqueles que tiverem interesse em conhecer estes novos personagens e suas histórias, por favor deixem suas opiniões nos comentários! Em breve eu irei começar a postar mais! 
Bjus e até a próxima postagem!!!!!!!!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010




ESTRELA NEGRA

Capítulo I


UMA MALA, UM CAVALHEIRO ARROGANTE
E UM INTERNATO DE RIQUINHOS

Eu realmente não queria nada daquilo, ganhar uma bolsa de estudos, entrar para um internato de riquinhos... Mas de nada valeram os meus esforços, não houve argumentos que fizessem os meus pais desistirem da ideia de me enviar para o Estrela Negra, o colégio interno de maior prestígio de toda a região. Então aqui estou eu, atravessando o imenso campus do colégio. Não sei se é a minha mala ou sé é o meu ânimo que está mais pesado, o fato é que parece que estou mais me arrastando do que propriamente andando.
__Que ótimo! - murmuro entre desânimo e frustração.
Sim, não bastava atravessar todo o campus, agora eu teria de arrastar aquela maldita mala pelos quatro lances de escadas com as quais me deparava. Quem em sã consciência dividiria o dormitório feminino em quatro andares?
__Só podia ser coisa desses riquinhos bestas. - resmungo quase grunhindo.


Puxo a mala com mais força, rumo ao terceiro piso, mas acabo perdendo o equilíbrio. Fecho os olhos diante da queda eminente. Subitamente sinto meu corpo ser sustentado por um braço que envolve minha cintura por completo, o que não é uma surpresa já que sou uma magrela de estatura não muito acima da média para uma garota de 15 anos. Imediatamente abro os olhos e busco por meu salvador. Meu olhar depara-se com um garoto loiro de olhos esmeralda, cujos cabelos despenteados cobriam as orelhas, vestindo o inconfundível uniforme preto e azul do colégio. Ele realmente não aparenta ter a força que possui, uma vez que ele não apenas me segurava com os pés suspensos no ar, como também segurava com o outro braço a minha mala. Ele me coloca novamente sobre o degrau.
__Garota desastrada, deveria ter mais cuidado, se não quiser ser salva por "riquinhos bestas". - fala ele com um ar debochado.
Ele ouviu...


__Obrigada! - resmungo com ferocidade tentando agarrar a alça da minha mala que ele ainda segurava.
__Não mesmo! - fala puxando a mala para que eu não a pegue.
__Como é?! - exclamo ficando ainda mais sem paciência.
Era só o que me faltava, um riquinho metido...
__Eu levo para você. - fala me ignorando e começando a subir as escadas. - É só você me dizer qual é o seu quarto.
Dizer qual é o meu quarto para esse garoto... Nem pensar!
__Não se preocupe, se não quer que eu leve até o seu quarto é só dizer em que andar eu devo deixar.
Esse garoto... Se não fosse estar estampado "pervertido" bem grande no meu rosto, ele jamais teria mencionado isso.
__Não se engane, "garotinha", eu só estou fazendo isso para não ter de ver você rolar escada abaixo de novo. - ele fala com ainda mais sarcasmo, me encarando dois degraus acima, o que o deixa ainda mais alto.
É fato que no ritmo em que estou eu não conseguiria arrastar essa mala por muito mais tempo, e uma queda novamente torná-se bem possível. Mas esse garoto me irrita... me chamando de "garotinha"... Bem, já que um riquinho arrogante resolveu fazer algo útil para variar, vale apena aproveitar.


__Quarto andar. - resmungo simplesmente, sem encará-lo.
__Ah, mudou de ideia, é?!
Esse garoto...
__Ora, cale a boca! Em primeiro lugar eu não pedi a sua ajuda, foi você que se ofereceu! - respondo mais áspera do que nunca.
__Oh, além de mal agradecida também é mau educada!
__Como é?!
Isso já é de mais!Me chamar de mal agradecida e mal educada... Quem esse cretino arrogante pensa que é?
__Quer saber, dispenço a sua ajuda!
Uma vez mais invisto contra a alça da mala, e novamente ele a tira do meu alcance.
__Heh, além de tudo você também é esquentadinha...
"Esquentadinha"... seu cretino...
__Mas felizmente eu fui educado para ser um cavalheiro e sempre ajudar uma dama, mesmo quando a dama em questão não é capaz de aceitar a generosidade alheia.
__Ofender uma dama também faz parte do seu código de cavalheiro?
Tuche, cretino!
Ele abre um sorriso debochado. Ele é definitivamente, inegavelmente lindo, e quanto a isso não há o que discutir, mas também é um arrogante metido. E estava conseguindo piorar ainda mais meu ânimo que já está ruim, e minha opinião sobre o colégio, especialmente sobre os alunos.


__Parece que com você eu não posso vencer nos argumentos. Gostei.
Ele me olha de um jeito maldoso, como se lago em mim o estivesse divertindo. Aquele sorriso aumentara...
__Pois você me irrita! - disparo na língua e no passo, deixando-o para trás - Vai me ajudar ou não, "cavalheiro"?
__É claro, minha "dama".
Segurei a vontade de me virar e encará-lo, ofendê-lo com algum insulto maldoso e inteligente, infelizmente as boas ideias pareceram fugir e eu ainda podia sentir o sorriso esboçar-se nos lábios dele enquanto subíamos. Ao menos a nossa agradável troca de insultos não continuou, mas em seu lugar, algo muito mais irritante, um silêncio constrangedor instalou-se. Fiquei aliviada quando subi o último degrau. Estava com um pouco de dor nas pernas e nos braços por ter arrastado a mala por tanto tempo, mas eu não gostava da ideia de ter de agradecer aquele arrogante por ter me ajudado. No entanto, não iria dar-lhe mais um motivo para me chamar de mal agradecida. Ensaiei o meu melhor "muito obrigada", e o meu mais gentil sorriso, enquanto ele soltava a minha mala no topo da escada ficando a uns dois passos de mim.


__Muito obrigada! - soltei com um grande sorriso.
Quem perdeu o sorriso foi ele. Tornou-se sério, enquanto me esforçava para manter o meu "ar gentil".
__Você...
__Ah?
__Tem dupla personalidade ou falta um parafuso na sua cabeça?
Heh?!
__Já pode ir seu cretino, arrogante e metido! E esqueça que vou lhe agradecer outra vez na vida! - eu disparei furiosa por causa da última ofensa.
__Oh, então era sério?!
__Ora, seu...
__Adrian.
__Hen?!
__Meu nome. Adrian. E não precisa me dizer o seu nome por que eu já sei.
Aquele sorriso sínico estava no seu rosto de novo, junto com aquela expressão maldosa.
__A propósito: Bem vinda ao Estrela Negra. O café da manhã é servido exatamente às 7:15, e as aulas iniciam pontualmente às 8:00. Não se atrase caso contrário terei de advertí-la. Três advertências e ficará em detenção após as aulas, comigo.
Ao falar ele pegou uma braçadeira de dentro do bolço da calça com o brasão do colégio. O cretino era um dos monitores da escola.


__Pode esquecer que vai me pegar, cretino! - disparei automaticamente.
Ele soutou uma risadinha sem vergonha.
__Bela escolha de palavras. Nos veremos em breve, Minha Lady.
Dito isso ele começou a descer os degraus me deixando furiosa no meio do corredor. Algumas garotas subiam e ao verem-no abriram sorrisos imensos, ele acenou com a cabeça em retorno ao cumprimento, mas o sorriso arrogante havia desaparecido do seu rosto.
Finalmente a raiva deixara meu cérebro voltar a funcionar e gritei para ele uma resposta a todos pulmões:
__Não conte com isso, cretino!
As garotas me olharam boquiabertas. Ele virou-se para mim e abriu outro daqueles sorrisos maliciosos, e me acenou um tchau enquanto voltava a descer as escadas, o que fez as garotas me olharem ainda mais espantadas. Mas eu estava fervendo de raiva para dar atenção a elas. As três passaram por mim me olhando da cabeça aos pés e o oposto também. Deveriam estar pensando o que alguém como eu fazia ali, eu obviamente não pertencia aquele ambiente, e neste ponto compartilhávamos da mesma opinião.
Eu permaneci parada até vê-lo desaparecer escada abaixo. Só então comecei a arrastar minha mala de novo.


Minha mala! Minha mala tinha o meu nome e sobrenome, além do meu... telefone... Se aquele cretino houvesse copiado seria o fim. Minha mãe foi quem colocara meus dados na mala, lógico que ela não pensou que isso poderia tornar-se um incômodo para mim. Minha mãe... meu pai... agora estava dividida entre sentir raiva por terem me forçado a vir para este colégio, ou sentir saudades. Saudades de casa, dos meus amigos de verdade, da minha antiga escola... Tive de segurar a vontade de chorar por que ainda faltava conhecer minha "adorável" colega de quarto.
Por sorte todos os quartos tinham presos as portas os nomes de seus respectivos ocupantes. Na porta em que meu nome estava, também havia escrito Tessa Hollins. Sabendo que este colégio é para riquinhos, não me surpreenderia se o Hollins fosse o de "Hollins and Hollins", a grande empresa de exportação conhecida em todo o país.
Eu já conseguia visualizar em minha mente como a tal garota deveria parecer, e como estava errada. Percebi isso quando a porta se abriu. Ela tinha cabelos lisos, loiros tingidos, sedosos e brilhantes, como os de comerciais de tv, algo que sempre achei fosse efeito de computador, e que paravam na altura dos seios. Seios que eu podia jurar que eram silicone. Seu rosto parecia com aqueles que se encontra em capas de revista... na verdade acho que já vi o rosto dela em uma capa de revista, uma dessas moda praia, eu acho. Seus olhos eram estreitos, escuros e tinham um brilho meio perverso.


Respirei fundo e entrei, eu já havia batido na porta e toda essa minha análise foi enquanto ela atendera a porta. Achei que deveria apresentar-me.
__Ah, oi, eu sou...
__Eu sei, Zoey alguma coisa.
Que antipática!
Ela virou-me as costas e sentou-se junto a escrivania. Ela pintava as longas unhas de um vermelho cintilante, algo que eu não usaria nem amarrada. O quarto estava impregnado com o cheiro de esmalte. O mais engraçado é que sempre imaginei que garotas ricas tivessem um profissional para as unhas, para o cabelo, para a limpeza da pele, talvez até para escolher a roupa que fossem usar. Foi quando lembrei que este era um colégio interno, saídas apenas nos fins de semana. E mesmo sendo um colégio para riquinhos mimados, ainda era um colégio, as manicures, maquiadoras, esteticistas e etc, não eram permitidas no campus. Isso significava que as deusas do Olimpo teriam de agir como as tantas outras rélis mortais.


Espantei meus pensamentos sobre a Miss simpatia e tratei de desfazer a minha mala. O quarto em que estávamos era maior do que o que eu esperava. Havia duas camas de solteiro feitas de uma madeira avermelhada, dois armários de tamanho razoável, uma escrivania e duas cômodas. Acima de escrivania, como que dividindo o quarto ao meio, uma grande janela que dava para o campus. Lancei uma breve olhada pela janela. Do outro lado de frente para o nosso dormitório estava o dormitório masculino, entre os dois, em uma das extremidades, o prédio com as salas de aula, atrás deste uma quadra para o atletismo, ao lado o ginásio com a piscina onde o clube de natação treina para as competições. Mas há uma coisa neste colégio, devo admitir, que merece alguma atenção, o conservatório musical. Sim, tocar violino é a minha paixão desde que tinha sete anos e assistira a uma apresentação junto com meu avô. No instante em que vi aquele instrumento e a sua melodia invadiu meus ouvidos, eu soube que queria tocá-lo. Aos 8 anos minhas primeiras aulas tiveram início, desde então não parei mais.


__Ei, você está me ouvindo? - a voz de Tessa arranca-me de meus pensamentos.
__Ah, desculpe.
Ela me encara visivelmente irritada.
__Eu não sei por que pessoas como você entram neste colégio. - ela me olhava dos pés a cabeça enquanto falava - Definitivamente a qualidade daqui está caindo. Dez anos atrás, gente como você não passaria nem pelo portão do Estrela Negra, mas os tempos parecem ser outros...
Eu não tiro a razão do que ela fala, embora estivesse sendo ofendida descaradamente... De fato o Estrela Negra só começara a aceitar bolsistas muito recentemente. Isso por que quem comanda o colégio agora é o filho do fundador, um sujeito que eu só conheci no dia em que, quase arrastada, vim com meus pais fechar os últimos detalhes da minha transferência. Fora durante as férias, um mês andes do início das aulas.
__...E quanto a isso eu infelizmente não posso fazer nada. - ela me encara - Agora nós duas precisamos esclarecer algumas regras.
__Regras?
Pela cara dela, começo a achar que não devia ter ficado tão surpresa. Afinal o que eu podia esperar...


__Regras sim. - ela apóia os pulsos na cintura, o esmalte ainda não devia ter secado - Primeira: nada de colar posters de artistas na parede, este não é o seu casebre.
Nossa que pena... Segurei a língua para não falar e o braço para não bofeteá-la, me ofender é uma coisa agora o meu lar...
__Segunda: não somos e não seremos amigas. Tenha isso em mente.
Como se eu quisesse...
___Terceira: nunca, jamais mexa nas minhas coisas. Eu não empresto nada, nem roupas sapatos ou qualquer outra coisa.
Caso essa QI de ameba não tenha percebido, eu sou uns 10cm menor que ela, meu sutiã obviamente é uns 2 números menor do que o dela, seus pés devem calçar um número maior do que o meu, e devo pesar uns 3kg a menos que ela. Em outras palavras, nada dela me serve. Como se eu quisesse andar por aí como uma cópia da Miss simpatia.
Por um momento pensei em retrucá-la, mas achei melhor deixá-la terminar a sua lista de regras.
__Quarta: fique longe do meu caminho que eu fico do seu.
Depois de calar-se, ela pegou sua bolça tigresa e saiu do quarto. O que obviamente a salvou de perder algumas mechas tingidas de cabelo. O pior é que este é apenas o primeiro dia, ainda tenho um longo caminho pela frente e prometi aos meus pais que daria o meu melhor.... Eu e minha mania de fazer promessas...


Empurrei minha mala para de baixo da cama. Comparado a minha colega de quarto o "cavalheiro" arrogante, que eu fiz questão de esquecer o nome, agora parecia bem mais agradável. Então lembrei-me de seu sorriso malicioso e o termo "agradável" jogou-se pela janela em queda livre. Ninguém neste zoológico pode ser taxado de agradável, não mesmo!
Então, depois de um relaxante banho, que eu tomei enquanto deveria estar jantando, mas preferi uma ducha sozinha no luxuoso banheiro do que estar cercada por mais riquinhos arrogantes e antipáticos, fui direto para a cama. E estava tão cansada que logo apaguei.


Ͽ♥Ͼ